“Investing is a popularity contest, and the most dangerous thing is to buy something at the peak of its popularity. At that point, all favorable facts and opinions are already factored into its price, and no new buyers are left to emerge.”
Howard Marks
O mês de março marcou a continuidade da janela positiva no mercado local, com forte queda do dólar e alta da bolsa brasileira, que voltou a ultrapassar os 120 mil pontos e acumula alta de 14.5% no ano. Interessante notar que para o índice das ações de 2ª linha o aumento foi de 6.7% no mesmo período, refletindo em relação ao primeiro índice, a valorização destacada dos setores financeiros e de commodities. O mercado internacional registrou sinais mistos. O S&P e o Nasdaq conseguiram mostrar recuperação mesmo em um cenário de maior preocupação com a subida de juros nos EUA. Por outro lado, os lockdowns na China, decorrentes da política de “Covid-Zero” e a intensificação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia impulsionaram perdas nas bolsas europeia e chinesa.
No cenário internacional, as preocupações com relação à velocidade de ajuste da política monetária nos Estados Unidos são crescentes. Além da pressão de preços causada pela alta das commodities e quebra de cadeias produtivas, o mercado de trabalho americano demonstra sinais de aquecimento e pressão sobre os salários. Em março, a taxa de desemprego caiu para 3.6%, praticamente retornando para patamares pré-pandemia. A inflação mais alta por mais tempo já está mostrando impacto crescente nas expectativas inflacionárias. A inflação implícita nos preços dos títulos públicos americanos de 5 anos indexados à inflação encerrou o mês 1.34% acima da meta de longo prazo do Fed. O Banco Central dos Estados Unidos iniciou o ciclo de alta de juros neste mês, subindo a taxa de política em 0.25%. Ao longo do mês, houve indicações de que o ritmo de altas deve aumentar para 0.50% e que o Fed deve implementar uma redução do seu balanço no valor de US$ 95 bilhões por mês. Dada a situação atual, o mercado já espera que o Fed tenha que subir sua taxa de juros acima do patamar considerado neutro, de aproximadamente 2.5%.
Na contramão do resto do mundo, a China continua enfrentando uma situação crítica com relação à Covid. Xangai, hoje a cidade mais rica e populosa do país, está em um rígido lockdown, no qual os habitantes da cidade necessitam de autorização especial do governo para saírem de suas casas. As medidas devem impactar significativamente o crescimento do PIB chinês, hoje projetado em 5% pela mediana dos analistas da Bloomberg. Além disso, o lockdown deve intensificar a as pressões sobre as cadeias de produção e causar mais inflação. O momento para uma nova onda de Covid na China é bastante inoportuno, uma vez que a economia já enfrentava a desaceleração vinda da desalavancagem no setor imobiliário.
O Brasil tem apresentado dados de atividade mais positivos na margem, o que tem elevado as projeções de crescimento para 2022. Em geral, guerras costumam apresentar consequências econômicas negativas, mesmo para os países terceiros. No entanto, algumas características do Brasil o tornam, de certa forma, um país mais defensivo com relação ao conflito da Ucrânia, como a característica de ser um exportador líquido de commodities e o estágio avançado da política monetária em relação aos nossos pares. Com isso, o fluxo do investidor internacional tornou o Brasil um beneficiário do fluxo para os mercados emergentes. Em março, COPOM aumentou a Selic em mais 1%, elevando a taxa meta para 11.75% anteviu que deve levar a taxa para 12.75% na reunião de maio. Apesar de dar indicações no sentido de que o final do ciclo de alta será na próxima reunião, o comitê preferiu adotar uma comunicação balanceada, deixando espaço para adotar mais contração monetária caso o quadro inflacionário sofra deterioração adicional. O IPCA de março teve alta de 1.62% no mês, acelerando a alta em doze meses de 10.54% para 11.30%. Foi a maior leitura mensal desde o plano real e superou as expectativas do mercado em 0.27 pontos percentuais. A composição do índice continua mostrando elementos desfavoráveis, com aceleração do índice de difusão de 74.8% para 76.1% e uma média dos núcleos que acumula 9.01% em doze meses, a maior desde 2003.