Copom

  • Carta Mensal – Abril 2022

    “Investing is a popularity contest, and the most dangerous thing is to buy something at the peak of its popularity. At that point, all favorable facts and opinions are already factored into its price, and no new buyers are left to emerge.”

    Howard Marks

    O mês de março marcou a continuidade da janela positiva no mercado local, com forte queda do dólar e alta da bolsa brasileira, que voltou a ultrapassar os 120 mil pontos e acumula alta de 14.5% no ano. Interessante notar que para o índice das ações de 2ª linha o aumento foi de 6.7% no mesmo período, refletindo em relação ao primeiro índice, a valorização destacada dos setores financeiros e de commodities. O mercado internacional registrou sinais mistos. O S&P e o Nasdaq conseguiram mostrar recuperação mesmo em um cenário de maior preocupação com a subida de juros nos EUA. Por outro lado, os lockdowns na China, decorrentes da política de “Covid-Zero” e a intensificação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia impulsionaram perdas nas bolsas europeia e chinesa.

    No cenário internacional, as preocupações com relação à velocidade de ajuste da política monetária nos Estados Unidos são crescentes. Além da pressão de preços causada pela alta das commodities e quebra de cadeias produtivas, o mercado de trabalho americano demonstra sinais de aquecimento e pressão sobre os salários. Em março, a taxa de desemprego caiu para 3.6%, praticamente retornando para patamares pré-pandemia. A inflação mais alta por mais tempo já está mostrando impacto crescente nas expectativas inflacionárias. A inflação implícita nos preços dos títulos públicos americanos de 5 anos indexados à inflação encerrou o mês 1.34% acima da meta de longo prazo do Fed. O Banco Central dos Estados Unidos iniciou o ciclo de alta de juros neste mês, subindo a taxa de política em 0.25%. Ao longo do mês, houve indicações de que o ritmo de altas deve aumentar para 0.50% e que o Fed deve implementar uma redução do seu balanço no valor de US$ 95 bilhões por mês. Dada a situação atual, o mercado já espera que o Fed tenha que subir sua taxa de juros acima do patamar considerado neutro, de aproximadamente 2.5%.

    Na contramão do resto do mundo, a China continua enfrentando uma situação crítica com relação à Covid. Xangai, hoje a cidade mais rica e populosa do país, está em um rígido lockdown, no qual os habitantes da cidade necessitam de autorização especial do governo para saírem de suas casas. As medidas devem impactar significativamente o crescimento do PIB chinês, hoje projetado em 5% pela mediana dos analistas da Bloomberg. Além disso, o lockdown deve intensificar a as pressões sobre as cadeias de produção e causar mais inflação. O momento para uma nova onda de Covid na China é bastante inoportuno, uma vez que a economia já enfrentava a desaceleração vinda da desalavancagem no setor imobiliário.

    O Brasil tem apresentado dados de atividade mais positivos na margem, o que tem elevado as projeções de crescimento para 2022. Em geral, guerras costumam apresentar consequências econômicas negativas, mesmo para os países terceiros. No entanto, algumas características do Brasil o tornam, de certa forma, um país mais defensivo com relação ao conflito da Ucrânia, como a característica de ser um exportador líquido de commodities e o estágio avançado da política monetária em relação aos nossos pares. Com isso, o fluxo do investidor internacional tornou o Brasil um beneficiário do fluxo para os mercados emergentes. Em março, COPOM aumentou a Selic em mais 1%, elevando a taxa meta para 11.75% anteviu que deve levar a taxa para 12.75% na reunião de maio. Apesar de dar indicações no sentido de que o final do ciclo de alta será na próxima reunião, o comitê preferiu adotar uma comunicação balanceada, deixando espaço para adotar mais contração monetária caso o quadro inflacionário sofra deterioração adicional. O IPCA de março teve alta de 1.62% no mês, acelerando a alta em doze meses de 10.54% para 11.30%. Foi a maior leitura mensal desde o plano real e superou as expectativas do mercado em 0.27 pontos percentuais. A composição do índice continua mostrando elementos desfavoráveis, com aceleração do índice de difusão de 74.8% para 76.1% e uma média dos núcleos que acumula 9.01% em doze meses, a maior desde 2003.

  • CARTA MENSAL – NOVEMBRO 2020

     

    “São todos maus descobridores os que pensam que não há terra quando conseguem ver apenas o mar” Francis Bacon

    Os dados de outubro continuaram a mostrar uma recuperação da atividade nos principais mercados desenvolvidos. Destaque para o PIB dos Estados Unidos, que cresceu a uma taxa anualizada de 33.1% no 3º trimestre, e da China que deve terminar o ano com um crescimento do PIB esperado próximo de 2%.

    Dados da economia real e os indicadores de alta frequência mais positivos propiciaram um ambiente favorável para os ativos de risco ao longo do mês. No entanto, na última semana do mês, o anúncio de novos lockdowns por conta da piora da segunda onda de Covid-19 na Europa e a proximidade das incertezas associadas à eleição americana provocou um forte movimento de aversão ao risco, revertendo a alta do mês em diversos mercados.

    No Brasil, a combinação do estímulo fiscal massivo aliado a melhoria da pandemia segue favorecendo a recuperação da atividade que surpreende positivamente. Vendas no varejo e produção industrial já estão acima dos níveis pré-crise, além de sinais de melhora no mercado de trabalho. Mesmo com uma alta taxa de desemprego em 14.4%, já estamos no 3º mês consecutivo de criação líquida de vagas e uma participação da força de trabalho, embora muito baixa, que parou de piorar.

    O COPOM manteve novamente a taxa Selic em 2% a.a., além de sinalizar que ela deve permanecer neste patamar embora o mercado já esteja precificando uma alta da taxa de juros no primeiro semestre de 2021. Os índices de inflação seguem sendo pressionados pela inflação de bens que já começou a contaminar os núcleos nos últimos meses. As projeções de inflação ainda estão abaixo da meta, mas há claramente um risco maior vindo do repasse cambial, além da escassez na cadeia de suprimentos de bens duráveis que estão influenciando os preços para cima.

    Seguem no radar do Banco central os riscos da retirada do auxílio emergencial, o hiato do produto negativo (PIB inferior ao seu potencial) e o risco de um possível retorno da pandemia. Se o regime fiscal do país for mantido e as expectativas inflacionárias de longo prazo se mantiverem ancoradas, é provável que o choque atual não contamine significativamente a inflação de 2021. A pressão inflacionária recente deve ser naturalmente reduzida pela queda no consumo resultante do vencimento do coronavoucher e pela forte redução do déficit primário para o ano que vem. No entanto, se a âncora fiscal do país não for respeitada, o ajuste cambial será mais severo e provavelmente perderemos a ancoragem da inflação.

    Neste mês, novamente a agenda política pouco caminhou por conta das eleições municipais. Nos parece que o governo não tem mais o fator tempo a seu favor e, cada dia passado sem o avanço desta agenda de reformas, aumentam as chances dos mercados precificarem um cenário fiscal mais negativo. No entanto, o mês foi marcado pelo avanço de algumas pautas legislativas, como o projeto que formaliza a independência do Banco Central, um importante avanço institucional para o país.

    Nos Estados Unidos, tivemos a eleição presidencial com a vitória do candidato democrata Joe Biden, ainda que contestado pelo presidente Donald Trump. A disputa pelas casas, ainda indefinida hoje, aponta para um senado majoritariamente republicano com o controle democrata na Câmara.

    Nossa expectativa é que teremos um novo pacote fiscal, porém menor e sem a contrapartida de aumento de impostos. Além disso, é possível que o governo Biden adote uma postura mais favorável ao comércio internacional, diminuindo a incerteza, e que deve favorecer o crescimento para países emergentes. Por outro lado, a agenda de sustentabilidade e a questão da Amazônia podem criar barreiras para a economia brasileira.

    O maior movimento de aversão a risco no mês veio da Europa, com o índice EuroStoxx caindo 7,4%. A segunda onda da Covid-19 já vinha acelerando sua taxa de contaminação desde o começo de agosto, mas mostrou uma dinâmica ainda mais explosiva em outubro, o que impactou significativamente o número de hospitalizações e causou a adoção de novas restrições de mobilidade em vários países.

    A intensificação do distanciamento social deve impactar negativamente a recuperação da atividade, porém provavelmente em um nível menor do que aquele observado no lockdown de março e abril. Ademais, o ambiente mais desafiador da pandemia deve incitar novamente estímulos de cunho fiscal e monetário por parte das autoridades, o que tende a ser favorável para os mercados no curto prazo, apesar do impacto negativo do confinamento sobre a economia real.

    Além disso, surgiram notícias de uma mutação do vírus em novas cepas encontradas nos Visons, que já teria contaminado alguns humanos na Dinamarca, e que poderia diminuir a eficácia de uma futura vacina. O tema ainda não é consensual e acompanharemos os comentários de especialistas e das autoridades científicas sobre o assunto. O desenvolvimento de vacinas segue forte, com mais 11 atualmente na fase III e 6 aprovadas para uso limitado. Seguimos atentos aos desenvolvimentos da pandemia nos países, aos estímulos e ao ritmo da recuperação econômica.

    Ressaltamos que a posição fiscal onde o Brasil se encontra é extremamente frágil e que uma segunda onda, embora não seja o nosso cenário base, ainda representa um risco importante, uma vez que temos pouco poder de fogo do ponto de vista de estímulos monetários ou fiscais.

     

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