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  • Carta Mensal Taler – Agosto 2020

     

    “Nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que realmente é”

    Adriano Luís Corrêa – Pensador

    Este mês de Julho foi marcado pelos dados que surpreenderam positivamente, tais como: PIB de vários países, atividade e resultado das empresas. Tudo isso levando a crer que teremos uma recuperação da economia global em “V”, onde o cenário catastrófico foi deixado de lado.

    Os bancos centrais no mundo todo tem mostrado seu enorme poder com ações englobando não somente cortes nas taxas de juros, mas também distribuições de renda nunca antes vistas. Os estímulos fiscais e monetários estão causando grande efeito nas economias e certa euforia nos preços dos ativos.

    Acreditamos que agora vamos entrar em um momento mais moderado das economias, onde as expectativas mais pessimistas já foram superadas, ainda que a pandemia global e seus efeitos ainda estejam cercados de incertezas. Ao que parece, as renovações dos estímulos já estão sendo precificadas e o mercado agora está com os olhos voltados para o ano de 2021, na recuperação econômica, onde é esperado que a doença já tenha sido deixada para trás. Além disso, enxergamos que depois que esta maré passar, ainda teremos um cenário de alto endividamento das empresas e um provável aumento no índice de inadimplência.

    Claramente, temos visto, que os dados referentes aos PIB’s deste segundo trimestre e PMI’s mensais (Índice de Gerente de Compras, fornece informações sobre as condições de negócio), dependeram diretamente de como foram tratadas e de quão rígidas foram as medidas de restrição. Os PMI´s da Zona do Euro e Chinês de julho ficaram acima do patamar de 50 pontos (que indica recuperação da economia), todos acima das expectativas. O velho continente, que vivenciou o ciclo de medidas restritivas mais cedo, observa agora uma recuperação mais intensa. De uma forma inédita, a Europa apresentou um pacote de ajuda fiscal que se destacou pelo tamanho e abrangência a ser direcionado principalmente aos países mais frágeis da região.

    Nos países desenvolvidos, os juros nominais estão quebrando recordes de baixa. Destaca-se o título do tesouro americano que fechou o mês de julho com uma taxa de 0,53% ao ano para o vencimento em 10 anos. Isto significa que o detentor destes títulos dificilmente terá algum retorno acima da inflação. Os EUA têm mostrado uma recuperação mais fraca que a Europa e China. Os índices de atividade e mobilidade não surpreenderam, em função das restrições ainda presentes em alguns estados que foram afetados por uma segunda onda da pandemia.

    Os Estados Unidos também apresentam uma vulnerabilidade em relação a continuidade do auxílio emergencial, o qual está sendo discutido no Congresso e gerando atritos entre os partidos Democrata e Republicano. No que diz respeito às eleições presidenciais, ainda há uma enorme incerteza sobre o resultado.
    Consideramos que Joe Biden poderia apresentar um possível risco ao mercado acionário americano, por defender em seu plano de governo um aumento de impostos corporativos e aumento do imposto de renda sobre o decil mais alto das pessoas físicas americanas. Entretanto, acreditamos que só vamos começar a enxergar algum respaldo no preço dos ativos, a medida que as eleições forem se aproximando.

    No Brasil, vemos que a renda total tem caído pouco mediante os estímulos e a população está acumulando mais poupança, seja por medo de uma incerteza ou por falta do que gastar por uma demanda ainda reprimida. A visualização de uma melhora em nossa economia local veio à tona de forma mais clara neste mês de Julho.
    Índices de mobilidade e de atividade econômica de maior frequência seguem melhorando, a medida que os estados estão afrouxando as medidas restritivas. O receio que fica a vista é o ambiente político, no qual a pandemia pode ser usada como pressuposto para aumentar os gastos de maneira irresponsável. O período de calamidade pública está sendo estendido temporariamente, flexibilizando a regra do teto de gastos. A preocupação que temos é esta flexibilização se tornar algo permanente.

    A nossa dívida pública bruta alcançou 75,8% do PIB no final de 2019, estima-se que essa relação Dívida/PIB atinja cerca 100% ao final do ano de 2020. Nossa intenção aqui não é demonizar o déficit, pois o endividamento público é uma reação necessária ao combate da pandemia. Todavia, estamos atentos ao desafio que a equipe econômica do governo tem pela frente para resistir a essa pressão por um aumento maior nos gastos. O que não falta é criatividade para evitar as amarras fiscais previstas na legislação. Enquanto isso a reforma tributária foi encaminhada, a reforma administrativa sendo estudada e ambas implicam afrouxamento das contas públicas.

    O que existe no mercado financeiro hoje é uma grande dispersão de projeções com relação à queda efetiva da economia neste ano e a velocidade da recuperação. O momento que estamos observando, até agora, pode levar muitos a uma visão favorável para ativos de risco, mas nos faz prestar atenção para um alerta: será que as políticas expansionistas não estão sendo implementadas de forma excessiva ou serão prolongadas por um período longo, de forma que causem efetivamente um processo inflacionário no futuro? Será que, em algum momento do tempo, a solvência nacional pode ser questionada?

    Seguimos atentos e cautelosos, pois a sensação é de que já assistimos a esse filme antes, dado que nos últimos anos o Brasil tem visto retrocessos no controle das contas públicas.

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